segunda-feira, 24 de outubro de 2011

Reza de Caboclo - Thiago Marques

O caboclo seguia esmorecido 
Pobre homem descrente de tudo
Sozinho na lavra, louvado seja
A mão calejada do esforço absurdo 

O chão não dá mais nem pedra, nem planta
Nesse julho seco é ainda pior
O riacho parece uma trilha de espinhos
A criação de tão magra faz dó

O sol castiga a moleira do pobre
Que cai de joelhos sem o que dizer
O nó na garganta é pior do que fome
E a prece sai muda pro santo entender

Refrão - O caboclo reza com fé
Reza com fé o caboclo
Que a fé vai tirar o sufoco
E a penumbra nunca vai voltar

Caboclo é da cor do cobre
De barro, terra, poeira e suor
Na luz alaranjada da tarde que morre
Fogo de lamparina é fumaça e pó

As sombras assuntam o começo do sono
No descanso inquieto, a revelação
Uma mulher dizia para ter esperança
O sonho nascia como oração

Refrão

Na novena caboclo virou romeiro
Que segue descalço a procissão
Que tira o chapéu e coloca no peito
Tem rosário e vela pingando na mão

No 2 de agosto o momento sagrado
Fogos brilhantes clareavam o céu
Reconhece a Senhora do sonho nas nuvens
Pelo azul do manto e o branco do véu

E o caboclo chora
Chora e olha pro andor
Agradece ao nosso Senhor
E à Senhora dos Anjos no Altar

E o caboclo ora
Ora e sente a vida
Que ressurge depois das feridas
Esperança não há de faltar

Refrão - Porque o caboclo reza com fé
Reza com fé o caboclo
Que a fé vai tirar o sufoco
E a penumbra nunca vai voltar

E quem foi que disse
Que a fé do caboclo é crendice
Que reza devota é mesmice
Não tem fé ou não sabe rezar
Pois o caboclo reza com fé!

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